As palhaças Lígia Maria e Cangica trazem para esta obra dois formatos de apresentação, uma como espetáculo e outra como um número, este em uma configuração mais compacta que o espetáculo.  O duo de palhaças apresenta neste projeto uma narrativa poética e paródica sobre as dificuldades, contradições e conquistas acerca de seu mundo enquanto mulheres e um casal lésbico. O número/espetáculo se divide em três blocos, seguindo a dinâmica dos entremeios de palhaços e cômicos no circo e show de variedades. Um ato cênico que trata do cerceamento feminino no mundo e questiona um certo imaginário normativo sobre o papel da mulher na humanidade. Signos binários se repetem ao longo dos séculos como no mito de Adão e Eva, uma imagem determinante da cultura judaico cristã de que um amor só se torna possível entre um homem e uma mulher. As palhaças os relacionam ao fato de que mulheres sofrem impedimentos até hoje por desejarem se amar simplesmente. Quadros cômicos parodiando tal mito e tecendo uma narrativa inusitada por meio da mímica , humor sarcástico, ludicidade e interação com o público.

 

No contato com o número, abrimos uma lente tragicômica para este mundo fechado na sua clássica estrutura heteronormativa de vida  e  vemos ali uma explanação bem humorada, descontraída, por vezes quase didática e documental de porque os preconceitos ainda permeiam a nossa sociedade.

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Num segundo momento Lígia e Cangica recordam da dificuldade do primeiro contato com uma   mulher e vão se apaixonando em meio aos seus relatos. Aqui seu álbum de casamento surge por meio de fotogramas mimizados por segundo...ridicularizando elas mesmas e vendo-se enquanto um casal descompassado, julgado e inadequado a um enquadramento imposto no modo de se relacionar. Ambas apresentam as contradições, dores , conflitos e fracassos desta dura e significativa realidade na sua forma de amar. 

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Os entremeios de cada Bloco são costurados pela DJ/MC Evelyn Cristina, que numa certa ambiência dos  programas de rádio e encarando simbolicamente a personagem narradora, como o pensamento alegórico das duas palhaças, vai tecendo e racontando os acontecimentos, por interjeições sonoras e também por sua atuação como MC. 

 

Com sua estreia em 2018 no "Boteco da Diversidade - Visibilidade Lésbica" idealizado pelo Sesc Pompeia, "O Passo de Duas" circulou por diversos lugares, entre eles o "FIC - Festival Internacional de Circo da Cidade de São Paulo" e o "1º Encuentro Latinoamericano de Circo LGBTI+" que foi realizado dentro da Semana da Diversidade em Montevidéu - Uruguai. O Passo de Duas foi um dos convidados a abrir o Festival e o duo de palhaças atuou também como MCs da gala de abertura.